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A LITERATURA COMO REMÉDIO
22 de  fevereiro de 2016 | Autor : 2 | Fonte : 2
Quando da construção da lendária Estrada de Ferro Madeira-Mamoré,  o jornal  The Porto Velho Marconigram, o segundo publicado em inglês que circulou nesta região naquela época , trazia uma frase, a única em espanhol, embaixo do título do periódico: “ A vida sin literatura e quinina, es muerte”.

No meio da adversidade quase intransponível da floresta amazônica, a literatura foi equiparada ao mais importante medicamento existente na época, aquele que tratava a enfermidade que mais acometia e matava os trabalhadores da ferrovia, a malária. A leitura era para esses bravos operários um lenitivo salutar para a solidão em que viviam , distante dos seus e de seus domicílios.

O efeito terapêutico da literatura  foi percebido desde a Antiguidade. O faraó Ramsés II considerava sua biblioteca como uma farmácia. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos com  soldados feridos na Segunda Guerra Mundial concluiu que aqueles que se dedicavam à leitura  recuperavam-se mais rapidamente.

Assim como os medicamentos, a literatura tem indicações, contraindicações e efeitos colaterais. Friedrich Nietzsche, filósofo alemão de nomeada, escreveu que “os leitores extraem dos livros, consoante a seu caráter, a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das flores, retiram, uma o mel, a outra o veneno”.

Retirar bons néctares de livros que se lê denota  sabedoria. “Muitos homens iniciaram uma nova era em sua vida a partir da leitura de um livro”, ensina Henry Thoreau. Quem tem um livro disponível, não está só. Se a escolha for boa, ele será um agradável companheiro para momentos de lazer, de apreensões e estados emocionais diversos. A leitura de um texto aprazível pode  conduzir a momentos de enlevo. E todas as vezes que se atinge esse estado de espírito, o organismo produz endorfinas, hormônios que nos provocam sensação de bem-estar, de felicidade.

O exercício da leitura deve ser estimulado desde a idade em que isso é possível. É importante dar às crianças livros infantis, coloridos, com belas histórias e até com ensinamentos de atitudes que possam ajudar na construção de seu caráter. Ler para crianças é algo que deve fazer parte das obrigações de pais e responsáveis. Nutri-las com encantadoras leituras tem tanta importância como o alimento físico que recebem. Aquelas alimentam a mente, estes fortalecem o corpo.

Se consumir literatura pode fazer muito bem à saúde, o mesmo se pode dizer de produzi-la. Mesmo que não se ache ter talento para escrever, devemos tentar nos expressar através da escrita — muitas vezes nos abstemos dessa salutar prática por inibição ou até mesmo por excesso de autocrítica. O poeta português Antônio Machado escreveu que “o caminho se faz caminhando” — qualquer atividade tende a melhorar e se consolidar com a prática reiterada. Não foram poucos os escritores que fizeram e fazem sucesso que só começaram a se dedicar a essa arte na maturidade. Produzir literatura sem dúvida que é fator motivacional  de vida — do escritor e de seus leitores.

Uma lapidar citação de Marcus Túlio Cícero, uma das mentes mais versáteis da Roma antiga, sintetiza a importância da literatura para a existência humana: “As letras são o alimento da juventude, a paixão da idade madura e a recreação da velhice; dão-nos brilho na prosperidade, e são uma consolação, um recurso no infortúnio; fazem as delícias do gabinete, e não embaraçam em nenhuma situação da vida; de noite servem-nos de companhia,  vão conosco para o campo e em viagem”.

Viriato Moura
Médico, jornalista, artista visual, idealizador e apresentador do programa de televisão Viva Porto Velho, colaborador de diversos sites a nível local e nacional.
 

ACLER - Academia de Letras de Rondônia
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