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10 de julho – 42 anos da morte da Madeira-Mamoré (3)
15 de  julho de 2014 | Autor : 4 | Fonte : 4


Lúcio Albuquerque
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Consultor: Abnael Machado de Lima, professor, historiador, membro da Academia de Letras de Rondônia e do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia

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    “A imagem mais forte que guardo, no momento em que os apitos das locomotivas, mais apreciam uivos de um grande animal ferido de morte, naquele dia 10 de julho, é da minha mãe chorando muito enquanto nos preparava o almoço”, recorda o jornalista Elvestre Lyman Johnson, 74 anos, quando pedi que ele narrasse como foi aquele dia 10 de julho de 1972, em que a ferrovia Madeira-Mamoré foi dada, definitivamente, como extinta.
    Filho do mestre telefonista Norman Johnson – que trabalhou na Madeira-Mamoré desde 1921 até aposentar e que, depois, foi responsável pela instalação das primeiras linhas telefônicas urbanas em Porto Velho e Guajará-Mirim, Elvestre Johnson era, em 1972, locutor da Rádio Caiari onde, além de atuar na equipe esportiva, ainda apresentava o programa “Táboa de Balanço”.
    Funcionário aposentado da Assembleia Legislativa, o jornalista diz que, em sendo julho, mês em que, naquela época, fazia frio em Porto Velho, o dia 10 estava com as nuvens muito baixas e a temperatura havia caído, “o que fazia aqueles momentos parecerem ainda mais tristes”

 
A Madeira-Mamoré deu início à cidade de Porto Velho (F. Dana Merril)
   
    “Naquele dia praticamente toda a população estava lá e ouvimos, a maioria chorando, a confirmação de que a Madeira-Mamoré tinha feito sua última viagem. Os apitos das locomotivas, como se elas quisessem demonstrar seu desespero, transmitiam ainda mais tristeza. Naquele dia, eu tenho certeza, até no Café Santos, bar onde era comum encontrar grupos sempre alegres conversando, a tristeza também se fez presente”
    Na Rádio Caiari o padre, jornalista e Vitor Hugo, realizou o que talvez tenha sido o último protesto contra o que estava acontecendo naquele 10 de julho. “Ele tinha um programa meio-dia e naquele dia chegou mais cedo e fez um pronunciamento em nome da população”.

 
Jornalista Elvestre Johnson (F. Ana Célia)

    Elvestre Johnson destaca que quando a ferrovia funcionava, ele ia ali também para buscar a mala de seu irmão mais velho, Afonso Johnson, motorista da litorina quando chegava da viagem. “Ver os trens funcionando, saindo e chegando, as máquinas apitando alegrando a cidade, era um grande atrativo”.
    Nos dias em que chegava o “trem da feira”, a alegria era grande, e a diversão era maior quando as composições traziam os bois para serem abatidos. “Eles eram levados pela Sete de Setembro até o sítio do “seu” Mário Monteiro, mais ou menos nas proximidades da igreja Nossa Senhora das Graças onde ficavam até que, de 10 a 10 vinham tocados para serem abatidos no matadouro que funcionava perto da atual Assembleia Legislativa onde ficava o “curri”.
    A cidade era pequena, “Mais de cinquenta dos atuais bairros não existiam, praticamente todos se conheciam, e era comum as pessoas irem ver a saída do trem, ver as pessoas que chegavam. Fazia 12 anos que a rodovia BR-29 (atual BR-364) estava aberta e funcionava precariamente, mas o centro das nossas atenções era a Madeira-Mamoré. A extinção da ferrovia acabou com nossa alegria”, finalizou Elvestre Johnson.

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Lúcio Albuquerque
Jornalista, Escritor e Membro da Acler
 

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