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Eles passaram, nós passaremos
11 de  junho de 2014 | Autor : 7 | Fonte : 7
Na Catedral do tempo e da vida eu vi Dom Francisco Xavier Rey e Dom Luiz Roberto Gomes de Arruda tão ativos, celebrando o trabalho e as missas, percorrendo trechos servidos por matagais. Nas corredeiras da vida e do tempo eu os vi trilhando o Evangelho, festejando o cristianismo transitando pelos mananciais.

        Nas cachoeiras dos anos e dos dias eu os observei tão cuidadosos batendo o sino despertando os povos nos matinais, levando a cultura e o saber rios acima e abaixo, formando mentes geniais.

        Nos trilhos e nas trilhas que conduzem o branco com o foco na integração com os povos tribais, eu os vi embalados pela ânsia cívica de os incluir nos estudos colegiais.

        Sob os céus lindeiros eu os vi voar em aviões próprios ou de carreira, levando a Palavra de Deus e do Cristo como se fosse remédio e gás, para impulsioná-los rumo ao progresso, através da leitura da Bíblia, de livros e jornais.

        Nos barrancos e nas praias desses limites fronteiriços foram tão abnegados salvando vidas, com denodo e sentido humano dissimulando o efeito de doenças, cujas dores não se viam nas rugas faciais, desde que a inclusão chegasse aos homens e mulheres, moradores do lugar, integrantes do entorno das terras municipais.

        Nas curvas das estradas de seringa foram observados pelos silvícolas que os acompanhavam, à distância, sem importuná-los jamais. Eles sabiam que aqueles dois só o bem praticavam a negros, vermelhos ou brancos, não faziam parte do grupo de facínoras, não praticavam atos bestiais.

        Nos crepúsculos e nas alvoradas, sempre atentos, todos os admiravam posto que desenhavam e realizavam nobres ações sociais; veio o primeiro colégio, as igrejas, as escolas, hospital, depois a Rádio Educadora, mexendo com os sonhos sonhados, que nunca foram triviais.

         Mas, num dia, um foi embora antes daquele outro. Eles passaram, porém marcaram com tintas fortes suas trajetórias neste mundo de Deus. Suas presenças foram eternas, não seriam levadas pelas corredeiras, cachoeiras, trilhos e trilhas, barrancos ou praias, pois suas pegadas, passos, ações, gestos e ensinamentos ficaram assinalados na história da vida e viraram pelo exemplo um símbolo referente ao tempo em que construíram lá atrás uma indicação que valorizaria os apóstolos que a eles seguissem o Norte demonstrado.

         E eis que outra geração assumiu o comando religioso do catolicismo nestas paragens. E, como se fosse numa procissão, aquelas palavras de ordem foram acompanhadas pelo devotamento à mesma causa por Dom Geraldo Verdier, com visão social abrangente, tentando favorecer e resguardar os direitos dos mais fracos, carentes de saúde, terra, espaço para a produção, amplitude de horizonte, como se cada ação fosse um Centro Despertar, na perspectiva da afirmação cidadã.

        Às aspirações dos homens do presente, por seu apostolado são acrescentados exemplos que hoje representam inspiração e agasalho... em cima da ação que distribuía o incenso como liturgia à criatividade e ao trabalho; mesmo porque esses três homens do passado e do presente são espelhos, por tudo aquilo que foi legado: da visão prospectiva, sim da visão de futuro, sopro criador que à nossa saudade incendeia, e que a tudo permeia, revelação divina pelas obras deixadas, conquistas materiais e espirituais, produzidas em cadeia.

        Afinal, a nenhum de nós, que também passaremos, será ofertado o direito de negligenciar, fracassando, dado que vencer é preciso, em cima do pensamento positivo e das ações idênticas que vimos praticadas por esses paradigmas, exercitadas numa fase de devoção de alma e espírito, que até então jamais havia sido escrita numa terra dadivosa, na areia do tempo ou no barro da vida, que o vento apaga,  mas que nos obriga até por questão de determinismo a VENCER, pois vencer como eles, repito, é preciso; são gritos que ouvimos aqui nas ruas, avenidas, sons que parece que escutamos a partir dos trilhos ainda existentes na ferrovia, e até nos rios, igarapés, nos lagos, na solidão de uma baia, lá onde a fonte rumoreja, perto de onde foram erguidos uma escola, hospital ou uma igreja... ali bem próximo dos mananciais, enfim nas cercanias dos verdes matagais.
Paulo Saldanha
Membro da ACLER e da Academia Guajaramirense de Letras
 

ACLER - Academia de Letras de Rondônia
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